ensaio sobre um conto de natal.


quem me conhece sabe que gosto de falar. uma infecção nas cordas vocais não está por isso no cardápio dos meus planos. vicissitude ordinária do tempo. bem sei. estava portanto a desdobrar-me em diálogos escritos on-line com quem me vai fazendo companhia quando noto um padrão nas interrogações. e outro nas constatações. porque deixaste de escrever? tenho saudades de te ler! desculpo-me com a falta de tempo. argumento com pouca inspiração. brinco com a carência de sistematização quando levo um abanão. como se diz por aqui porque estás a desconseguir? não sei. there are a lot of bananas in your head. what?!? acho que estás com muito ruído na cabeça. ruído? sim. o ruído faz-nos desfocar da essência. pensa nisso. abri o computador e enfrentei uma página em branco. tenho que conseguir. preciso escrever para pensar. e enquanto teclo sai da ponta dos dedos o nome de james stone da universidade de sheffield. sorrio. li que defende que há coisas de que nos lembramos que podem gerar consequências negativas. ou seja enfraquecem outras memórias armazenadas no cérebro. “o enfraquecimento acontece porque lembrar-se de uma coisa é como reaprendê-la”. eu entro muitas vezes neste processo de auto-sabotagem. enfraqueço o que de importante já sei. como por exemplo que as coisas não acontecem fortuitamente. fiquei temporariamente impedida de fabulo,-are porque este mês está a pedir-me para privilegiar o escutar. observar para interpretar. as mensagens comuns apareceram hoje porque este mês está a pedir-me para voltar a ser fiel a mim mesma. escrever para pensar. dezembro não me legues então com o que escrevi na lista dos desejos ao pai natal. vai antes abrindo em cada janela do calendário do advento uma pista para chegar ao que for adequado para mim. ficou escuro entretanto. falta-me energia para me levantar e chegar ao interruptor. pdi com penicilina não é um cocktail fabuloso. para além de que estou quente e confortável. adoro o cheiro do chá de limão com gengibre e canela ao som de um bom piano a meia luz. mantenho-me quieta ao lado da árvore de natal que fizemos há não sei quanto tempo porque alguém me provou que iniciar os preparativos para o natal cedo faz de nós pessoas mais felizes. pura e simples verdade. a nossa árvore está uma miscelânea de penduricalhos que tenho que confessar estarem já a ser úteis. os brilhos não condizente e as purpurinas que sujam o chão e as luzes que piscam como se não houvesse amanhã. engraçado que as estrelas da make a wish são o que mais chama a atenção. simples mas imponentes destacam-se dos demais. carisma é isto também. quem disse que os objectos não suportam características humanas? demoro-me na frase comum a todas: "é possível ter". leio. volto a reler. tirei o som ao telemóvel mas espreito e tomo nota da provocação. espero que estejas a escrever. outra vez as estrelas em papel penduradas e as palavras que as distinguem. "força". "desejos". "sorrir". "alegria". e é isto. só não bato palmas porque estou encaixada num puff que já se moldou ao meu corpo. mas sinto uma alegria real. cá está a primeira pista. a minha primeira pista. é possível ter o que me faz feliz desde que não me desfoque da minha essência. é possível parar para apreciar. reflectir. reposicionar. se e sempre que me permitir compor o meu abecedário. tal como gosto de fazer. como preciso de fazer. enquanto não escrevo um conto de natal à séria faço deste o meu primeiro ensaio. este conta a história de como no inicio de dezembro a magia do mês me passou uma rasteira e me trouxe de volta ao essencial. não prometo nada. mas esta hora redigida significou muito para mim. quanto à moral que seja a que cada um quiser. feliz natal.






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