a minha mãe fez anos ontem. não interessa quantos. interessa
como. das mais variadíssimas formas e cores e humores. como todos nós com a
diferença de que é da minha mãe que falo. a minha mãe é mãe de nós as duas. não
sei se o seu maior desafio. mas atrevo-me a dizer que um dos. pelo tempo de
diferença entre a primeira e a segunda maternidade.
por-tudo-o-que-nós-sabemos-mas-que-não-posso-contar-porque-a minha-mãe-não-iria-gostar-e-a-minha-irmã-idem.
de tradicional pouco ou nada. continua a desafiar-nos todos os dias. porque há
que saber viver e sobreviver. zero tupperwares. casacos e malas para qualquer
ocasião. e literatura em compensação. se a caricaturasse estaria a cirandar
serena sob um olho de um furacão. forte. confiante. humor difícil de entender. audaz
nas decisões. tenaz no uso das palavras. a verdade sempre. sem alienação de
responsabilidade. ensinou-nos o princípio. bebemos-lhe a essência. a acenar sem
dar logo a mão. nos piores momentos da minha vida foi a ela quem chamei. espero
que o meu filho me chame também. assim é a minha mãe-mãe. a minha mãe é
professora desde sempre. de português bendito. de meninos e meninas. uns de
agora. outros de outros tempos. muitos. daquelas dedicadas à nobreza da
profissão. ensinar cada um a aprender. sendo que cada um requer um método per
si. não há meninos iguais. gabo-lhe a coragem de nunca se cansar de ir pelo
caminho menos fácil. espero que o meu filho se cruze com professores assim. dos
que insistem em ver mais além. porque mesmo escondida está lá uma justificação
para tudo. bons e menos bons comportamentos. haja também tempo para insistir.
coração para sentir. atitude para escutar. tomar conta. agir. assim é a minha
mãe-professora. a minha mãe é avó. nas palavras do neto: “a avó tem óculos. usa
muitas pulseiras. é magrinha mas diz que é gorda. mas eu acho que não. a avó
gosta de comer bolos. cozinha muito bem. a avó é muito querida para mim porque é
simpática. não faz nada mal. em santa cruz a avó fez um bife que eu gostei
muito. à noite sempre que estou com ela conta-me uma historia. a avó sabe
sempre tudo o que eu pergunto. de trabalhos de casa de português e outras coisas.
é meiguinha. gosto de brincar com a avó com jogos de tabuleiro. mas gosto mais
de brincar com a avó com coisas que eu recebo no natal”. enquanto narra sorri. espero
que um dia um meu neto me conte com a mesma ternura na voz. assim é a minha
mãe-avó. a minha mãe fez anos ontem. eu escrevo hoje. apesar de a pontualidade
ser meu forte e não dela. este ano sou eu que chego depois. “não me levem tão a
sério”. só neste dia deste ano. neste em que ao contrário dos anteriores acordaste cheia de vontade de celebrar. a minha Mãe
com direito a duas letras maiúsculas porque é a Mulher mais fantasticamente consistente
na sua forma de ser e estar que conheço. parabéns sempre. com pablo e sophia. lareira
e mar. perfume e golas altas. água natural e nós.
1 Comentários
Já tinha saudades de te ler. Adorei 🙂
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