somos onde nos encontramos

desde a licença de maternidade. já lá vão 7 anos. vivi-o agora. num outro tempo. ritmo. contexto. eu para ti. sem outra ocupação primordial. somente a de mãe. diferente. intenso. inquietante. já não há como não me preocupar com horas de levantar. bem cedo para o trânsito fintar. acordas a sorrir. colaboras sem eu pedir. já não ficas a chorar. queres chegar com a urgência de brincar. já não levamos nada nas mãos. falta-nos sim mais um par para carregar. estranhaste a forma como ia vestida deixar-te. ténis não são próprios para. deves ter pensado. mal sabes tu o que eu não dava para assim ser pensado. depois era esperar que o tempo passasse. ir ao teu encontro não sendo noite. sentir-me especial por ali estar àquela hora. vir de lá um já com trejeito de ombros. é tudo tão outra coisa a esta velocidade. tivemos tempo para lanchar. não só para jantar. para apanhar o dia ainda a meio. sem correrias. trabalhos de casa. matraquilhos ou netflix. para ver o entardecer do sofá. para conversar escutando-nos. universo paralelo este que vim espreitar. onde pais e filhos partilham o mesmo tempo. com igualdade de deveres. de direitos também. o do dia-a-dia em que avós são plenos como avós. em que part-times e transportes e outros extra ficam fora do contexto familiar. do cinto que ajusta o orçamento. porque não são necessários. nem palavras feias como prolongamentos. ou horas extra. em que ajudar a crescer é estar lá. estar. mais do que acordar. despachar. mais do que adormecer. despachar. tão mais. o dia ainda a meio aquando do reencontro. pode ser sempre assim? não meu filho. porquê. porque a mamã tem que trabalhar. mas podes explicar aos senhores do trabalho que tens que cuidar de mim também. eles deviam saber porque também têm que cuidar de alguém. todos temos. até de nós. mas sucumbimos a esta peculiar forma de estar. tudo ao contrário. escolas. trabalhos. em contra-relógio. um soa a tic-tac. outro a tac-tic. sistema sem ordem. prioridades forçadas. ando para trás. como é possível ser hoje mais difícil. com tanta ajuda de máquinas e tecnologias e automatismos. seremos nós? idealismos à parte gostava de mais equilíbrio. de todas as partes. envolvidos. da escola que não se quer ajustar à realidade em nome de uma pedagogia qualquer. do trabalho que não quer saber da escola em nome de um bem maior. das crianças que precisam de presença de quem os trouxe ao mundo porque sim. dos crescidos que se alienam porque tem que ser para sobreviverem. para ser melhor não tenho que fazer igual aos outros. o que queres dizer com isso? por exemplo quando estou a fazer uma ficha há quem copie. eu não copio. faço o melhor que sei. pausa. andaremos quase todos a copiar uma ordem para ser melhores. quando afinal o caminho para ser melhor não é por aqui? desde a licença de maternidade. continuas a precisar de mim. e eu de ti. somos onde nos encontramos.


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